Por Hyader Epaminondas
Estamos no sexto filme de uma série que, mesmo repetindo a fórmula, continua encontrando maneiras criativas de transformar o mundo em um parque de diversões mortal, onde qualquer objeto, de um caminhão de lixo a um piercing no nariz ou até mesmo uma bola de futebol, pode te mandar direto para o além com estilo, bastante sanguinolência e uma trilha sonora impecável. Se você chegou até aqui esperando que a franquia ficasse mais “cabeça”, sinto informar: ela permanece fiel às suas raízes. E isso, para os fãs, é um prato cheio.
Logo de início, o filme conquista um feito raro no cinema atual: enganar quem viu os trailers e faz isso lindamente. Não entrega as melhores mortes nem revela as reviravoltas mais importantes, o que, convenhamos, já merece um aplauso.
A dupla Zach Lipovsky e Adam B. Stein se diverte na sequência, não apenas mantendo a energia caótica e criativa da franquia, como também apostando em uma fórmula diferente ao elevar a saturação ao máximo em uma abertura mais extensa, repleta de cores quentes e uma sequência de fatos intrigantes que engatilham a primeira premonição com uma pegadinha sagaz envolvendo a protagonista da vez, talvez até mesmo conectando todos os outros filmes aos eventos mostrados neste.
E faz tudo isso sem perder o fôlego, prestando uma emocionante homenagem ao legado de Tony Todd ao contar a história de origem de seu personagem, presente desde o primeiro filme e que, infelizmente, faleceu logo após as filmagens desta produção. Todd é uma lenda do terror, famoso por dar vida a personagens icônicos como Candyman e pelo próprio agente funerário da saga, William Bludworth. Sua voz e presença imponentes ajudaram a definir o tom sombrio e ameaçador do gênero por décadas.
Sua última atuação no filme traz um toque de metalinguagem emocionante, que atravessa a tela funcionando como uma despedida direta aos fãs e à franquia que ajudou a moldar. Mesmo cercado por mortes brutais e carregadas de gore, Todd consegue transmitir uma mensagem surpreendentemente otimista: a de que devemos viver cada instante com intensidade, pois a morte, inevitavelmente, será sempre o destino final.
Um filme que merece ser rebobinado várias vezes
Esse universo macabro sempre funcionou assim: a Morte nunca é rápida. Ela se anuncia com um suspense crescente, é coreografada como uma dança macabra. Há tensão, há ruídos desconcertantes, falsas pistas, silêncios estratégicos e, claro, aquela câmera que passeia por cada elemento do cenário como quem convida a jogar um jogo de “ache o objeto fatal”.
Parte do sucesso está em sua relação antiga com a pulsão escópica, o desejo de olhar, de ver aquilo que é proibido ou incômodo. É esse gosto pelo incômodo visual que mantém a gente grudado na tela, quase como se fosse um reality show de terror, e convenhamos, quem resiste a isso?
Aqui, os enquadramentos são um espetáculo à parte. Seus planos são vertiginosos para elaborar suspense de forma criativa, propositalmente desconfortáveis, e ao mesmo tempo deliciosos de assistir. Ele nunca entrega de antemão onde ou como a morte vai atacar. Há sempre algo escondido, algo espreitando. A gente é deixado em permanente estado de alerta, o que só reforça a tensão cômica e quase sádica que é a alma da saga.
A direção é esperta ao não gritar o perigo, mas cochichar no ouvido da protagonista. Nenhuma das mortes é reciclada, e todas vêm com aquele selo de ironia trágica que só a própria Morte saberia carimbar. É como se ela tivesse feito um curso de roteiro com Ari Aster e saído de lá obcecada por mise-en-scène.
Por mais que não seja o foco, Premonição 6 tenta desenvolver seus personagens de forma cômica, mas, propositalmente, eles continuam rasos. Isso não chega a ser algo negativo, porque sejamos honestos: estamos aqui mesmo é para ver quem vai voar pelo para-brisa ou ser atravessado por um monumento histórico. Se você nunca curtiu a franquia, este filme não vai te converter, mas, para quem estiver de mente aberta ao que ele propõe, é uma experiência divertida e com potencial alto de criar novos traumas.
Tudo isso embalado pelo clima nostálgico e quase irônico de Without You, do Air Supply, que toca ao fundo, deixando uma sensação agridoce, como se estivesse prestes a ser atropelado por um carro funerário ao som de Shout, do The Isley Brothers. Mas, desta vez, com mais estilo, personalidade, uma direção surpreendentemente consciente de onde pisa e onde vai fazer alguém escorregar.
Como um millennial que cresceu com o VHS e viu o Orkut nascer, assistir no cinema foi como reencontrar um ente querido que você não vê há 13 anos: aquela mistura de saudade, estranhamento e uma pitada de “caramba, como você mudou!”. Nunca tive a chance de assistir a um filme da saga na tela grande, só na TV mesmo. Então, estar ali, no escuro, cercado por desconhecidos que riam e se assustavam junto comigo, foi uma experiência que misturou nostalgia, tragédia e um humor meio torto, do jeitinho que a dona morte sempre gostou de entregar.
Premonição 6: Laços de Sangue é uma catarse divertidamente esquisita e recheada de referências dos filmes anteriores. Uma reunião de família onde todo mundo morre de forma criativa. E a gente paga para ver, feliz, assustado e rindo de nervoso.